17/11/10

Sensibilidade pelos pormenores

Lendo “Os Cus de Judas” reparo uma sensibilidade incrível do escritor, sensibilidade pelos pormenores que para os outros podem parecer pouco importantes mas que na verdade constituem a essência da vida e do seu romance.
O narrador conduz-nos pela s
érie de segundos planos que construem um desenho da vida, do quotidiano do protagonista.
Quando leio parece-me como se o escritor abrisse em frente de mim as gavetas com v
árias coisas, nem tenho tempo para dar uma olhada dentro duma, ele, já abre outra, voces entendem o que quero dizer? - O protagonista fala da guerra e de repente muda o tema para a sua infância, para as coxas de mulheres angolanas, misturando o passado com o futuro e o presente. Como diz o protagonista :
“Os romances por escrever acumulavam-se-me no sótão da cabeça à maneira de aparelhos antiquados reduzidos a um amontoado de peças dispares que eu não lograria reunir..”.
Esses "romances por escrever" parecem-me as histórias/pensamentos que o protaginista/narrador começa e não acaba. Vocês não se perdem nesse labirinto de segundos planos, episódios inacabados e com a mistura do futuro/presente/passado??
Sinto que o escritor preparou mais surpresas para nos..

2 comentários:

  1. Acho que a sensibilidade pelo pormenor está masi visível na linguagem e no uso de metonímias. ALA trabalhou muito os seus romances, a linguagem de desscrilão dele é concreta, curta e exata. O uso das metonímias ajuda muito, porque por meio de um só pormenor somos capazes de captar o sentido e a imagem daquilo que o autor quiz transmitir, não importa se seja no nível emocional ou literal ou até no nível das nossas impreções ou experiencias.

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  2. Pegando no que a A. Wilk disse, deves tentar aprofundar mas as tuas entradas e as tuas opiniões, citando não só o texto, mas conhecimentos específicos da análise literária e autores da bibliografia crítica. As tuas entradas devem ser mais consequentes e contribuir mais para a descoberta e o desvendar da arte narrativa de António Lobo Antunes. Apresentas boas ideias, mas falta-te aprofundá-las. Repara como a A.Wilk invoca conhecimentos técnicos de processos retóricos. E vale a pena relembrar que a metonímia não é o único que o autor utiliza.

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