17/01/11

o remorso de baltazar serapião


Antes da leitura, já a capa do livro despertou a minha curiosidade. Simplesmente adoro a capa da edição do ano 2007 da Editora Quid Novi. O fundo é negro e no primeiro plano há um homem que está virado de costas, a sua pele está coberta com um mapa que parece ser uma parte do corpo dele. As linhas de montanhas, beira-mar, fronteiras e as letras parecem ser marcas ou feridas, dão-me uma ideia que esse mapa simboliza o caminho que cada de nos tem que seguir durante a sua vida, apresente a história que cada individuo tem: desconhecida e misteriosa para os outros. Segredos, experiências, medos, sucessos estão gravados na nossa alma, criam a nossa história que vestimos como a tatuagem. A imagem do mapa sugere-me também uma outra ideia/conotação: do fado, destino. Como na canção de Amália Rodrigues:

Bem pensado
Todos temos nosso fado
E quem nasce malfadado,
Melhor fado não terá!
Fado é sorte
E do berço até a morte,
Ninguém foge, por mais forte
Ao destino que Deus dá!


No momento em que nascemos já é atribuido à nos o dia da nossa morte. Não se pode fugir do seu fado, é como esse mapa, gravado em nos.O plano de Deus que não pode ser mudado, não há chance para isso. Andamos nesse mundo achando que tudo depende só de nos porém na verdade só seguimos o plano, percorremos os caminhos dessa mapa da vida que alguém preparou para nós, seja Deus ou demônio... Oque vocês acham sobre essa ideia? Que reflexões desperta em vos a capa do livro?

04/01/11

Topografias em quase dicionário

Mapa topografico
No início do livro de poemas de Ana Luísa Amaral (A Gênese do Amor) encontramos o poema Topografias em quase dicionário. Esse poema, do que começámos a falar na última aula da literatura, constitui uma espécie de chave para a leitura deste livro. Através das noções de paisagem e de cartografia o texto constitui uma mapa de palavras, um dicionário.

Fragmento da entrevista com Ana Luísa Amaral:
Génese do Amor abre com uma secção que entendeu chamar Topografias em quase dicionário. Considera-a, como referiu Paula Mourão, um prólogo programático?
Ana Luísa Amaral: É engraçado o que acontece com esse poema. Inicialmente, ele não estava, como depois ficou, escrito em forma de diálogo interno (ou interior), inicialmente até tinha partes nove, se não me engano, com números e tudo. Só muito mais tarde é que eu decidi alternar com itálicos e assim, de alguma maneira, criar essa cisão, ou forma dialogante, no poema. Por isso, sim, é como se ele anunciasse uma estrutura dialógica que depois se desenvolve ao longo de todo o livro. Além disso, os últimos versos são "Talvez só este abismo/Interrompo no mapa o precipício?/No traço dos teus dedos,/rota onde quase cabem: sereia,/o alaúde, o tempo,/ Nessa rota/o suspendo", e eu acho que a referência à sereia, ao alaúde e ao tempo acabam por inaugurar o que vem a seguir, são uma espécie de mapa para o precipício do amor.”*
*Ana Luísa Amaral em entrevista com Ana Marques Gastão para o Diário de Notícias (http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=619471)

"Amor é inexprimível, porque não se explica."

Hoje queria escrever sobre uma poeta especial que cria a poesia nitidamente feminista e intimista. Ana Luísa Amaral é a vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d'Escritas, com a sua obra A Génese do Amor. Diz-se que com o seu décimo livro de poemas, Ana atingiu o auge de sua produção poética.

Como diz a própria autora, A Génese do Amor  “...é um livro sobre o amor humano, nessa medida, ele é necessariamente também um livro sobre a efemeridade do amor humano. Há um soneto do Vinícius de Moraes, muito conhecido, que acaba com os versos "que não seja imortal, posto que é chama,/ mas que seja infinito enquanto dure". É justamente a possibilidade de conter o infinito no finito. É isso que diz a "Última Meditação de Camões", em que o poeta se auto-declara como aquele que queima por versos um segundo, ao passo que a palavra arde eternidade por um som. A única coisa que pode tornar o amor infinito é a palavra. Em termos humanos, em termos terrenos - e é na terra que nós vivemos -, o amor tem sempre essa dimensão de precariedade, e a própria ameaça está lá. Penso que a intensidade também tem a ver com isso. "*

O amor
é o tema mais recorrente desta poeta portuguesa contemporânea. A Génese do Amor  apesar de ser sobre o amor, é também sobre o efémero do amor humano. Como Ana Luísa Amaral explica na entrevista, o amor é inexprimível, porque não se explica. E é mortal. A única coisa que o pode imortalizar é a palavra.
*Ana Luísa Amaral em entrevista com Ana Marques Gastão para o Diário de Notícias (http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=619471)

20/12/10

reflexão sobre a anamorfose

No artigo de Maria Cristina Chaves de Carvalho (pubicado no meu blogue alguns dias antes) falta-me alguma ordem: a autora podia já no início apresentar uma explicação o que é a anamorfose. Ainda bem que essa explicação aparece:

“A anamorfose é uma rubrica das artes plásticas e representa uma figura, um objeto ou uma cena de maneira que, quando contemplada frontalmente, torna-se distorcida e até mesmo irreconhecível, aparecendo com nitidez somente quando vista de um determinado ângulo, a certa distância, ou ainda com o uso de lentes especiais, ou com a ajuda de um espelho curvo.”

Acho que é mais fácil explicar o fenômeno da anamorfose na literatura começando com os exemplos nas artes plásticas. Aqui alguns exemplos (infelizmente não conheço nem títulos nem nomes dos autores, encontrei os quadros no artigo sobre a anamorfose: http://antropologia-literatury.blogspot.com/2010/05/spotkanie-xliv-anamorfoza-w-literaturze.html)


Podemos observar que o conteudo/ o tema muda: depende o que vamos achar o foundo e o que vai servir de ponto central. Assim no primeiro quadro podemos ver uma mulher na rua ou (se vamos mudar da perspectiva) uma cara.
Alguns tratam a anamorfose como um truque óptico mas ela serve também como uma chave para ver uma outra realidade que está oculta. O nosso mundo nem sempre é o que parece ser, basta mudar um pouco a perspectiva e podemos ver outras coisas. A anamorfose exige de um expectador/ leitor um esforço intlectual, habilidade de ver em várias dimensões. Mostra que muitas as vezes rendemo-nos a uma ilusão.
Na literatura, como assegura a autora do artigo, a
anamorfose é o discurso do espectador, pois neste caso há algo na obra de arte que lhe é ocultado, impelindo aquele que a aprecia a participar de sua feitura. No caso da pintura como da literatura muito depende do receptor/leitor: se vai captar a ilusão, uma outra dimensão.
Admito que para mim é muito mais fácil descobrir a anamorfose numa obra plástica do que num texto literário. Infelizmente o artigo de
Maria Cristina Chaves de Carvalho  já não apresenta nenhuma definição clara como é construida a anamorfose numa obra literária, em que reside. No caso do Livro “Os Cus de Judas” será que toda a Obra pode constituir uma grande anamorfose? Tenho a ideia que o leitor tem que encontrar entre todas as múltiplas histórias, algum centro, algum ponto central (como na anamorfose nas artes plásticas) para ser capaz de encontrar uma visão que o autor preparou. Acho que o protagonista do livro serve como uma prisma- foca todas as histórias e todos os enredos que contados por ele criam uma dimensão nova, um outro fundo. É só a minha reflexão, não sei bem se é certa.

14/12/10

questão de anamorfose

Encontrei um texto interessante sobre a anamrofose nos romances de António Lobo Antunes e queria partilhá-lo com vocês.

“A expressão da anamorfose – como forma modificada da escrita ou como reescrita textual da matéria narrada – pode ser configurada como um procedimento estético que permeia algumas narrativas de António Lobo Antunes. ALA obriga o leitor a
deslocar-se no texto diante de suas múltiplas histórias, as suas e as dos outros. Esse processo criativo pode ser compreendido como uma perspectiva em anamorfose. Severo Sarduy esclarece:

“Dilatação de um contorno e duplicação do centro: ou antes, deslizar programado do ponto
de vista, desde a posição frontal até esse ponto máximo de lateralidade que permite a
constituição de uma outra figura regular: anamorfose. (SARDUY, 1988:65)
Embora António Lobo Antunes exponha, em seu processo singular de criação, toda a construção do tecido literário, parece buscar de modo obsessivo o “regresso a si mesmo” (SARDUY, 1988:54), isto é, a revisão de seus procedimentos de escrita,
demonstrando simultaneamente uma preocupação com a descoberta do outro, que se mostra ou é visto em imagem distorcida ou anamórfica.
Em outro ensaio de Severo Sarduy, intitulado “La simulación”, o autor assegura
que a anamorfose é o discurso do espectador, pois neste caso há algo na obra de arte que lhe é ocultado, impelindo aquele que a aprecia a participar de sua feitura. A anamorfose é uma rubrica das artes plásticas e representa uma figura, um objeto ou uma cena de maneira que, quando contemplada frontalmente, torna-se distorcida e até mesmo irreconhecível, aparecendo com nitidez somente quando vista de um determinado ângulo, a certa distância, ou ainda com o uso de lentes especiais, ou com a ajuda de um espelho curvo. Para Sarduy,
A anamorfose e o discurso do espectador como forma de ocultação: algo que se oculta ao
sujeito – e daí o seu mal estar – e não pode ser lido, revela mais que uma mudança de lugar.
O sujeito está implicado na leitura do espetáculo, na tradução do discurso, precisamente
porque isso que de imediato não consegue ver ou ouvir o transforma diretamente no sujeito.
O inquietante é que a relação frontal do sujeito ao espetáculo não possa ser considerado
como algo adquirido com a certeza de uma premissa. (SARDUY, 1999: 1276-77)

Desse modo, cabe ao leitor deslocar-se no texto porque precisa constantemente
retomar vários aspectos da narrativa, juntar os relatos a partir de memórias
fragmentadas, e situando-se em tempos e espaços que se superpõem ao longo de todo o romance. Esse modo não habitual de tratar a palavra pode ser compreendido neste estudo a partir da etimologia da palavra “anamorfose”, pois “morfose” significa a aquisição de uma forma, enquanto anamorfose, quer dizer “formado de novo”. Portanto, todo o processo de criação do autor culmina em metamorfose, pois esta implica a mudança completa da forma. Logo, as vozes que pertencem a essas personagens cujos “vagos rostos” são informes, fazem parte de uma narrativa marcada por uma perspectiva em anamorfose, cuja escrita indefinida se mantém em um processo contínuo de mudança, desdobrando-se em metamorfose.”


Fragmento do texto “A ANAMORFOSE NA ESCRITURA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES” de
Maria Cristina Chaves de Carvalho (Doutoranda em Literatura Comparada da Universidade Federal Fluminense (UFF).)

12/12/10

António Lobo Antunes: Crónicas

As crónicas de António Lobo Antunes constituem um quadro da sociedade lisboeta e na minha opinião também um quadro da classe média do séc. XXI. Encontramos nelas as descrições das vivências quotidianas e dos acontecimentos mais ou menos banais.
“Entre o kitsch da pequena burguesia consumista, o tédio dos domingos, o peso do vazio e o desencanto, o nevitável fracasso das relações amorosas, o que Lobo Antunes aqui nos propõe é a lúcida deambulação através de um universo de aprisonamento e a visão amarga, corrosiva duma sociedade em processo de mutação.” (Maria Graciete Besse em: http://coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=149&p=437&o=p )
As crónicas descrevem a classe media portuguesa especialmente o ambiente lisboeta e o quotidiano. Lobo Antunes apresenta-nos uma realidade triste, não a vida mas a vegetação. Os protagonistas desses textos vivem numa ilusão da felicidade, numa  ilusão que as coisas materiais vão garantir alegria, felicidade, paz e amor em casa, assim como o protagonista do texto “A propósito de ti”. O narrador em primeira pessoa fala : “Somos felizes. Acabámos de pagar a casa [...]. Somos felizes: preferimos a mesma novela [...].Somos felizes. A prova de que somos felizes é que comprámos o cão [...].”.  As repetições introduzem um tom obsessivo, criam um clima inquietador. Esta obsessividade gira completamente em torno da relação do protagonista com a mulher. Onde é que está essa felicidade? O protagonista tem a casa, comprou várias coisas ainda o cão. Mas falta algo nesse quadro “perfeito”... Perdeu-se o amor. Perderam-se as paixões, as coisas que dão o senso à vida. Sem elas a vida torna- se uma vegetação, uma existência obscura e miserável. As pessoas continuam num sofá em frente da televisão. E que típo de existência é essa?
 "Na realidade é um Portugal tristíssimo, e quem o descreve năo ignora que dele tem uma saudade antecipada porque tudo o que morre, por igual, nos pertence. Daí que haja em contraponto, para lá da comicidade grotesca ou patética de certas situaçőes, uma espécie de angústia opressora que nasce dessa frustraçăo resignada que é afinal tăo tragicamente portuguesa, e constitui como que o bilhete de identidade dum país inteiro.” (
in Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano XV, nş642, Maio de 1995)
Lê-se muito bem as crónicas de Lobo Antunes. O seu caráter universal e intemporal faz que a realidade apresentada pode ser recebida bem pelo um leitor português mas ao mesmo tempo também pelo um leitor polaco. Os pormenores, os pequenos hábitos constituem as fotografias dos nossos tempos.

Os Cus De Judas: As impressões finais


Na história do protagonista aparecem os raios de esperança que nem tudo está perdido. O primeiro raio é a mulher angolana: Sofia. Quando o protagonista fala dela o mundo parece ter mais cores, desaparecem os horrores da guerra colonial..
“A tua casa, Sofia, cheirava vivo, a coisa viva e alegre como o teu riso repentino, a coisa quente e saudável e delicada e invencível [...].” Aparece uma chance da vida normal, chance de combater a inquietação e insegurança que cresceram no coração do homem. Infelizmente... Sofia acaba violada com “o bilhete para Luanda”.
Uma mais morte absurda nessa guerra sem senso. A morte que marca o protagonista profundamente e ele não pode fazer nada para diminuir o seu sofrimento. A história de Sofia constitui uma crítica relevante sobre os atos irracionais que não trazem benefício nenhum. Uma crítica da guerra privada do senso, a guerra que os soldados não reconheciam como sua e regressaram marcados profundamente com a culpa, a vergonha e os remorsos dos seus actos.
Assim o livro de António Lobo Antunes constitui uma crítica social e política e ao mesmo tempo o estudo sobre os efeitos devastadores, a impossibilidade do amor e da readaptação.

28/11/10

'Para a sua casa ou a minha?'

Incapaz de comunicar-se com as outras pessoas, submergido numa solidão doída, o protagonista não consegue se abrir e exercer o diálogo com os outros... Sobreviveu a guerra mas será capaz de amar? De continuar viver?
Já vejo que não. A vida dele depois da volta constituem as noites no bar e as vezes sexo com algumas mulheres desconhecidas. Sexo sem amor, sem sentimentos, só um acto privado de calor e de ternura apresentado através do erotismo cru e pouco poético.


Imagem do filme "Waltz with Bashir"
  ‘Para sua casa ou para a minha?’ - pergunta o protagonista e continua:
‘Despedimo-nos no vestibulo trocando numeros de telefone que imediatamente se esquecem.’.
Um dos muitos monólogos em que ele se dirige quase exclusivamente para si mesmo.
Não há espaço para a mulher do bar, não há a voz dela. Só ele e as lembranças, o desespero do homem que não consegue escapar das experiências do passado que o destruiu psicologicamente..
Continua a viver em Lisboa mas que vida é essa?
O seu apartamento parece ser um quarto dos hoteis, sem as fotos da familia, só os moveis.. Um espaço vazio para cultivar a sua solidão. Afinal o protagonista parece-me não um ser humano mas... um bicho. Que cumpre os seus instinctos, não se importa com os outros concentrado em si próprio, perdido num labirinto do passado.
O que vocês acham sobre essa compração?

“O que fazemos nós aqui?”


imagem da Wikipedia
 Enganei-me com a primeira impressão que o protagonista não critica a guerra colonial fortemente.. Os meses em Angola passam e ele está cheio de angustia e de sofrimento.  Queixa-se por sua situação, por causa de pensões da miséria para as mulheres de soldados, por causa dos companheiros que pedem: ‘Me arranja uma doença doutor.’
O nojo, as saudades de casa e a pergunta que volta a ele todos os dias: “O que fazemos nós aqui?”. E ele, um homem culto, que no seu monólogo faz as referências às obras de Arte, ele que testemunha a crueldade da guerra que o marca profundamente, ele não sabe a resposta.
Fala sobre si e seus companheiros :
‘..Nascidos sob o signo da Mocidade Portuguesa e do seu patriotismo veemente e estúpido de pacotilha, alimentados culturalmente pelo ramal da Beira Baixa, os rios de Moçambique e as serras do sistema Galaico-Duriense, espiados pelos mil olhos ferozes da PIDE, condenados ao consumo de jornais que a censura reduzia a louvores melancólicos ao relento de sacristia de província do Estado Novo, e jogados por fim na violência paranóica da guerra..”.
Já é bem visível que o protagonista não concorda com a política da Metrópole, queixa-se dela, queixa-se da censura, da violência e miséria mas ao mesmo tempo não luta contra...
É indiferente e apático. A única coisa que faz é uma crítica.
É por causa do medo ou do caráter fraco?
Na minha opinião é o medo que paralisa-lo. Isso é bem compreensível, no tempo da guerra paga se pela deserção com sua própria vida...

17/11/10

A volta

Parei no fragmento quando o protagonista volta a sua casa e li 2 ou 3 vezes..:

“...vou dissolver-me nos teus bra
ços há tanto tempo sós, ver nascer a manhã na janela estreita do tecto, ao teu lado,[...] vou tocar na tua pele, [...] o espaço claro que separa os seios e possui o brilho nacarado de certas conchas secretas que a vazante exibe com o orglho de um tesouro, vou entrar em ti devagar, até ao fundo, apoiado nos braços estendidos para assistir à alegria gritada do orgasmo..”.Fala da sua mulher, dos seus desejos. Vejo nesse trecho o amor, a dedicação, o cuidado, a delicadeza e as saudades de calor e intimidade. As palavras dele são tenras e doces, criam a impressão de happy end dos filmes americanos: o protagonista-soldado volta a casa e já todos estão felizes. Mas a vida continua apesar de protagonista quer o seu happy end..:
“..uma explosão de lágrimas a inchar, enovelada, na garganta, encontrei uma mulher numa cama e uma criança num berço, [...] e fiquei parado no quarto com a cabeça cheia ainda dos ecos da guerra,[...] comecei a afastar os cobertores sem uma palavra, e me receber inteiro na cova morna do colchão..”.  O que me estranha são as palavras “uma mulher numa cama e uma criança num berço”.
“Uma”? Porque não usa a palavra “minha”? Sente-se tão alienado? Sente que já não pertence a esse lugar, a essa realidade? Mas deita-se sob o cobertor, perto da sua mulher para receber o calor que lhe faltava tanto durante o tempo pasado na terra africana..Talvez espere que esse calor vai ser uma cura para a dor da guerra.