12/12/10

António Lobo Antunes: Crónicas

As crónicas de António Lobo Antunes constituem um quadro da sociedade lisboeta e na minha opinião também um quadro da classe média do séc. XXI. Encontramos nelas as descrições das vivências quotidianas e dos acontecimentos mais ou menos banais.
“Entre o kitsch da pequena burguesia consumista, o tédio dos domingos, o peso do vazio e o desencanto, o nevitável fracasso das relações amorosas, o que Lobo Antunes aqui nos propõe é a lúcida deambulação através de um universo de aprisonamento e a visão amarga, corrosiva duma sociedade em processo de mutação.” (Maria Graciete Besse em: http://coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=149&p=437&o=p )
As crónicas descrevem a classe media portuguesa especialmente o ambiente lisboeta e o quotidiano. Lobo Antunes apresenta-nos uma realidade triste, não a vida mas a vegetação. Os protagonistas desses textos vivem numa ilusão da felicidade, numa  ilusão que as coisas materiais vão garantir alegria, felicidade, paz e amor em casa, assim como o protagonista do texto “A propósito de ti”. O narrador em primeira pessoa fala : “Somos felizes. Acabámos de pagar a casa [...]. Somos felizes: preferimos a mesma novela [...].Somos felizes. A prova de que somos felizes é que comprámos o cão [...].”.  As repetições introduzem um tom obsessivo, criam um clima inquietador. Esta obsessividade gira completamente em torno da relação do protagonista com a mulher. Onde é que está essa felicidade? O protagonista tem a casa, comprou várias coisas ainda o cão. Mas falta algo nesse quadro “perfeito”... Perdeu-se o amor. Perderam-se as paixões, as coisas que dão o senso à vida. Sem elas a vida torna- se uma vegetação, uma existência obscura e miserável. As pessoas continuam num sofá em frente da televisão. E que típo de existência é essa?
 "Na realidade é um Portugal tristíssimo, e quem o descreve năo ignora que dele tem uma saudade antecipada porque tudo o que morre, por igual, nos pertence. Daí que haja em contraponto, para lá da comicidade grotesca ou patética de certas situaçőes, uma espécie de angústia opressora que nasce dessa frustraçăo resignada que é afinal tăo tragicamente portuguesa, e constitui como que o bilhete de identidade dum país inteiro.” (
in Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano XV, nş642, Maio de 1995)
Lê-se muito bem as crónicas de Lobo Antunes. O seu caráter universal e intemporal faz que a realidade apresentada pode ser recebida bem pelo um leitor português mas ao mesmo tempo também pelo um leitor polaco. Os pormenores, os pequenos hábitos constituem as fotografias dos nossos tempos.

2 comentários:

  1. Entrada interessante, mas curta sobre as crónicas. As excertos da crítica ilustram bem o ambiente em que decorrem as crónicas (já agora, quem é o autor do artigo do JL?).

    No entanto, não compreendo porque limitas o alcance das crónicas à classe média do século XXI? O retrato feito já não se adequa ao século XX?

    A crónica que citas foi a que lemos na aula. Que outras crónicas podem ilustrar o que referes nesta entrada?

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  2. Infelizmente nao consigo encontrar quem e o autor do artigo do JL, nao ha informacao na pagina onde o encontrei.

    Nao queria limitar o alcance, escrevi rapidamente XXI mas claro,vc tem razao que as crónicas ilustram tambem uma parte do sec XX!

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