17/11/10

“-Felizmente que a tropa há-de torná-lo um homem.”

Qualquer guerra que seja traz consigo sempre as experiências tristes e duras.
No livro de António Lobo Antunes aparece o tema de transformação de homem e a questão da perda da inocência. Parece-me que o protagonista de “Os cus de Judas” já é o adulto quando levado a Africa, pois não é que cada homem tem em si um menino?

“-Felizmente que a tropa há-de torná-lo um homem.
Esta profecia vigorosa, transmitida ao longo da infância e da adolescência [...] prolongava-se em ecos estridentes..”.


Toda a família desejava ver o protagonista como o soldado. Em cada sociedade acha-se que o serviço militar transforma jovens em homens adultos. Isso constitui algum tipo de iniciação, de ritual. S
egundo os psicólogos, a falta desse ritual e da metamorfose pode gerar o sentimento de irrealização e falta do senso e do valor da vida do homem. Acha-se que o serviço militar vai transformar os rapazes desajeitados em homens fortes e maduros. Isso lembra-me das histórias sobre os nossos poetas polaco do periodo da Segunda Guerra Mundial- rapazes que lutavam como os adultos, tinham corajem de morrer pela sua pátria, criam que a luta tinha senso. E o que isso tem com o livro de Lobo Antunes? Constitui um contraste. Sei que falo de duas guerras completamente diferentes mas deixam-me explicar... O protagonista sente o absurdo da guerra colonial: “..lutando contra um inimigo invisível, contra os dias que se não sucedem e indefinidamente se alongam, contra a saudade, a indignação e o remorso..”. Não luta activamente, é um médico e muitas vezes não consegue salvar a vida dos soldados. Vê muitas mortes mas não encontra nenhuma resposta para a pergunta “por que?”. Por que lutam eles todos? Por que morrem? Em nome "de ideais veementes e imbecis"? Por que foram trazidos a essas terras Africanas que pouco lhes interessam? Longe de familias, de amigos, de casas, de suas vidas.
“De modo quando embarquei para Angola, a bordo de um navio cheio de tropas, para me tornar finalmente homem, agradecia ao Governo que me possibilitava, grátis, uma tal metamorfose [...] impotente à sua própria morte.”. Dose do sarcasmo só sublinha o pesar do protagonista que se submerge numa estagnação, impotência e talvez no alcoolismo... Assim o escritor afasta-se de criar uma versão heróica e epopeica da história.

(desculpa por essa fonte pequena, tentei mudar, mas nao da...)

3 comentários:

  1. Acho que o autor afastou-se tanto da visão epopéica e romantica da história porque a guerra foi também a sua experiencia. Na minha opinião como testemunha do que o sentimento de perigo pode fazer com o ser humano ele já não acredita na humanidade. Este pode ser um bom ponto de saida para uma análise da condição humana em obra de Saramago e da Antunes. Saramago acredita na humanidade, nos valores e na força do bem que vai ganhar. Antunes, parece, desde o início rejeita esta possibilidade. Para ele o ser humano é cru, incapaz de guardar a sua inocencia.

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  2. Algumas coisas em que deves considerar para esta entrada e para as futuras:
    - Dizes que «Parece-me que o protagonista de “Os cus de Judas” já é o adulto quando levado a Africa, pois não é que cada homem tem em si um menino?». Já conseguiste chegar a alguma certeza sobre este assunto, pois a resposta está inequivocamente apresentada no texto.

    - Dizes que «Segundo os psicólogos, a falta desse ritual e da metamorfose pode gerar o sentimento de irrealização e falta do senso e do valor da vida do homem» . Como sabes há várias perspectivas e correntes na psicologia. A qual te referes quando fazes esta apreciação? O que quero dizer é que não deves fazer coisas como "segundo os psicólogos", porque, na verdade, não estás a dizer nada a não ser a reproduzir um discuro pseudo-intelectual. Deves antes citar uma fonte e um autor específico para que o teu discurso tenha credibilidade e haja uma verdadeira partilha de conhecimento.

    Evita também um tipo do discurso que se baseia principalmente no senso comunm ou num conhecimento estereotipado da realidade. A ideia é promover uma discussão relevante e problematizadora.

    Mais concretamente, não compreendo muito bem o que queres dizer com "Não luta activamente, é um médico e muitas vezes não consegue salvar a vida dos soldados.". Considera-lo culpado e incapaz?

    E no final quando dizes "Assim o escritor afasta-se de criar uma versão heróica e epopeica da história.". Essa intenção alguma vez existiu?

    Por fim, tenta ainda que cada entrada se concentre em aprofundar um aspecto específico, porque por exemplo nesta entrada o título e o início remetem para um assunto, mas a conclusão já não tem ligação ao assunto inicial.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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