“Nao quer passar ao vodka?”
Consigo imaginar um desses lugares dos filmes americanos: um bar velho onde sempre há pouca luz, está sujo, o protagonista asentado pede o copo seguinte..
“[...]este bar e os seus candeeiros Arte Nova de gosto duvidoso, os seus habitantes de cabeças juntas segredando-se banalidades deliciosas na euforia suave do álcool, a música de fundo a conferir aos nossos sorrisos a misteriosa profundidade dos sentimentos que não possuimos nunca..”.
Imagino-lo sozinho, alienado. Um copo vazio em frente dele. Fumando, observa no espelho a sua cara cansada...
Talvez toda a acção do livro decorre nesse lugar onde um homem, cujo nome não conheço, está matando com a vodka a dor da vida, a dor da guerra.
Desiludido, abandonado, conta as historias da sua vida, misturando o passado com o presente e o futuro.
Imaginava-lo sozinho mas o protagonista dirige-se a uma mulher: “Não quer passar a vodka?” e “Quem sabe se acabaremos a noite a fazer amor um com outro..?”. Não hà resposta.
Será que essa mulher existe na verdade? Ou isso é só um monólogo dum bêbado, que sente-se tão solitário que inventa uma mulher? Inventa alguém que pode escutar-lhe. E quem vai ser um ouvinte melhor se não uma mulher, assentada perto dele, fumando em silêcio..? Isso lembra me da protagonista de “Onze Minutos” de Coelho. Vocês leram? A protagonista, uma prostituta, não só cumpria os desejos sexuais dos seus clientes mas sabia que os homens queriam também ser escutados. Que foram tão frustrados, desiludidos e perdidos com sua vida que procuravam dum ouvinte. E ela foi o melhor..
“Quem sabe se acabaremos a noite a fazer amor um com outro..?”. -Pergunta o protagonista de “Os Cus de Judas”. Mas ele na verdade quer fazer amor? Ou quer simplesmente falar com alguém?
Não estou convencida se essa mulher existe na verdade..
Por que a invenção?- Porque escritor queria sublinhar a solidão, a falta de esperança e tornar o protagonista ainda mais alienado. Isso também deixou o escritor dirigir-se ao leitor, nas páginas seguintes lemos “Escute.”, “Olhe para mim, preciso tanto que me escute.” etc.
Isso faz que eu me sinto como se o protagonista dirigia-se a mim, contava a mim a sua história.
Voltando a mulher do bar... Talvez ela existe.. Mas não responde às perguntas. Ou talvez bêbado já não consegue as ouvir..
“É capaz de amar? Desculpe a pergunta é tola, todas as mulheres são capazes de amar e as que o não são amam-se a si próprias..”.
Então ele pergunta e responde sozinho.. É um monólogo ou não, mulher existe ou é só um produto da imaginação? O que vocês acham?
Eu ainda não sei... E sinto que essa questão vai voltar a mim nas páginas seguintes.
Pois, a existência ou iexistência daquela mulher é uma questão sem solução, que provavelmente será sempre o tema das longas discussões.
ResponderEliminarSugeriste que talvez o protagonista seja tão bêbado que já não ouve as respostas da sua interlocutora. E que tal assumir que o protagonista é tão egoísta, tão egocéntrico (já que é muito ensimesmado), tão concentrado em si e em o que ele quer e precisa que até não espera uma resposta ou ignora-a completamente?
Ou a bebadeira dele fez com que ele imaginou aqauela mulher, como ninguém quer ouvi-lo. Então ele inunda a sua companheira imaginária com as suas recordações, como o seu monólogo de fio bébado tal como o seu enunciador.
ResponderEliminarApresento aqui uma ligação para uma discussão sobre este mesmo assunto http://leitora-amadora.blogspot.com/2010/11/outra-vez-figura-da-misteriosa-mulher.html#comments
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